O desacolhimento por maioridade civil é uma realidade desafiadora e muitas vezes invisível para os jovens que estão em abrigos e instituições de acolhimento. Quando completam 18 anos, esses adolescentes se veem diante de um momento crucial em suas vidas, o qual pode ser marcado por insegurança, medo e falta de preparação para os desafios da vida adulta. De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), esses jovens têm o direito de receber a proteção e o apoio necessários durante o processo de transição para a maioridade. No entanto, muitas vezes, a saída dos abrigos é marcada por uma sensação de desamparo, o que impacta sua integração social e profissional.
A pedagoga Renata Damas, da Casa da Criança e do Adolescente de Valinhos, analisa que essa fase se torna um momento de muita ansiedade para os jovens. Ela descreve a sensação que esses adolescentes têm quando se aproximam do tão temido “18 anos”. “Quando penso no momento em que o jovem vai deixar o abrigo ao completar 18 anos, é como se esse momento fosse um monstro invisível que vai se aproximando devagar”, diz Renata. Ela enfatiza que, a partir dos 16 ou 17 anos, os jovens começam a perceber que a maioridade está próxima e, com ela, vem a grande dúvida: “E agora? O que será da minha vida?”
Mesmo diante desse cenário desafiador, a Casa da Criança busca fornecer suporte contínuo aos jovens que estão prestes a completar a maioridade. Renata destaca o trabalho da instituição em ajudar os adolescentes a se prepararem para o futuro, seja por meio de cursos profissionalizantes, atendimentos individuais e orientação financeira. “Tentamos fazer tudo o que podemos para ajudar nesse processo. Durante os atendimentos individuais, conversamos com cada um, buscamos entender seus gostos e interesses para direcioná-los em sua trajetória”, afirma a pedagoga.
No entanto, a realidade da maioridade civil nem sempre permite que todos os jovens saiam preparados. A pedagoga revela a complexidade dessa transição: “Quando chega o dia dos 18 anos, a realidade é difícil. O jovem começa a perceber que o abrigo, que sempre foi um lugar seguro, já não será mais sua casa.” Esse momento é marcado por uma fragilidade emocional, insegurança e o desconforto de uma transição. Infelizmente, há jovens que saem dos abrigos sem o suporte de uma rede de proteção robusta e oportunidades no mercado de trabalho.
Em muitos casos, essa falta de preparação leva a consequências graves. Como Renata Damas explica, “quando vemos alguém que não conseguiu se organizar, a tristeza e a impotência tomam conta”. Os jovens que não foram acolhidos no mercado de trabalho ou não conseguiram se dedicar aos estudos acabam saindo com baixa escolaridade e sem habilidades profissionais adequadas. Embora a Casa da Criança faça o possível para minimizar essas dificuldades, a falta de uma rede de apoio mais estruturada para a transição para a vida adulta continua sendo um grande obstáculo. Para a instituição o desacolhimento por maioridade civil, portanto, não é apenas uma questão de cumprir uma formalidade legal, mas de garantir que esses jovens, tão vulneráveis, tenham uma chance real de prosperar após a maioridade.
Empresas e pessoas físicas interessadas em apoiar os jovens que estão se preparando para deixar o acolhimento institucional, ou mesmo os que já completaram 18 anos, têm a oportunidade de fazer a diferença. Ao entrar em contato com a equipe da Casa da Criança, poderão se unir a um time de voluntários comprometidos com essa causa, contribuindo de forma significativa para o futuro desses jovens e oferecendo o suporte essencial para sua inserção social e profissional.

Encerrando a programação, no dia 15 de maio, às 19h, será realizada uma roda de conversa sobre o tema “Saúde Mental em Crianças e Adolescentes: um diálogo com cuidadoras(es) e profissionais”, conduzida pela psicóloga e doutora em psicologia Juliana dos Santos Corbett. O momento também contará com depoimentos emocionantes de famílias acolhedoras que compartilham suas vivências no serviço.
Outro detalhe interessante é que foi através do jantar oferecido na “Noite do Bem Bom”, que surgiu a iniciativa da criação do Cozinheiros do Bem. Quem conta é Éder Trevisan, fundador do grupo e também diretor voluntário da Casa da Criança: “O cardápio especial é elaborado há mais de 10 anos, sempre com muita dedicação e carinho, atendendo ao gosto pessoal do Anélio, que fazia questão de sempre jantar conosco no fim da noite”, ressalta Éder, acrescentando “acredito que também será muito bom neste ano, pois ele estará olhando lá de cima e nos dando força pra seguir com seu legado.”
Em contato com Célia Leão, Secretária de Desenvolvimento Social e Habitação de Valinhos, ela reforça a importância desse acolhimento e como a comunidade pode contribuir para fortalecer essa rede de apoio.
Adriana Simões, coordenadora da instituição, compartilha o sentimento que permeia essa ação: “Nos identificamos com a cultura da alimentação árabe, que valoriza o compartilhamento e a generosidade. Convidar a comunidade para este almoço é, para nós, uma maneira de espalhar bondade e criar laços. É um convite para que cada um possa, ao seu modo, fazer parte desta corrente de amor e solidariedade.”
Dr. Guimarães destaca que a participação no programa não beneficia apenas as crianças e adolescentes acolhidos, mas também traz vantagens significativas para a comunidade e para as próprias famílias acolhedoras. “A satisfação pessoal gerada por ajudar uma criança ou adolescente a crescer e se desenvolver é extremamente gratificante. Além disso, o fortalecimento dos laços familiares e o ensino de valores como empatia e solidariedade são alguns dos benefícios que as famílias acolhedoras experimentam,” comenta.